Darío
Vuturuá pensava na sorte que tinha, quando na primeira tarde à frente da
redação, ele também teve de decupar alguns muitos minutos de discurso furado,
convertendo os atropelos do português em uma esmiuçada transcrição que logo
teria a gramática sumariamente executada pela revisão de Furquinha, o patrão
mais estranho que já tivera o desprazer de ter. Mas Darío também estava ansioso
pela chegada de Tompinhão-Coelho, que ele já havia percebido rabiscando algumas
caricaturas de Furquinha às escondidas, normalmente com o patrão caracterizado
como um apresentador de programas de domingo, de pé sobre um púlpito, microfone
à mão, palma levantada como que a orar, condenado, na forma de desenho, a
eternamente soltar parvoíces medíocres como “A FORÇA QUE TENHO NÃO ME FOI DADA,
GANHEI COM SUOR E ORAÇÕES” ou “EU SOU UM COMUNICADOR, TÃO SABENDO?” ou ainda, e
esta acabava sendo a preferida de Darío Vuturuá, com o Furquinha-caricatura com
as mãozinhas pro alto e dedinhos balançando, ele tinha até lágrimas nos olhos
(arrojado, o desenho convertia uma das lágrimas em balão), dizendo “EU ENSINEI
MACUCO A LER!!!”, o que quase acabou com um de seus discursos porque ninguém
dos que viram o desenho conseguiu segurar as risadas. E Darío estava ansioso
para convidar Tompinhão-Coelho para uma empreitada diferente que agüentar o
blá-blá-blá de Furquinha ou observar Pernalonga cavar por todo o quintal em
busca de uma dolinha de maconha.
Então,
Tompinhão-Coelho chegou, de óculos escuros, disfarçando a óbvia chapação. E
Darío Vuturuá foi lá falar com ele.
DARÍO VUTURUÁ
Dá uma olhada nisso aqui,
ô, Tomás.
TOMÁS
PINHÃO
Bicho, como é que você
ouviu me chamarem naquela noite no Pernalonga?
DARÍO
VUTURUÁ
Tompinhão?
TOMPINHÃO
Tompinhão-Coelho, meu
camarada.
Não é o nome com que me
batizaram, mas é o que me faz eu.
Sacou, Ururuá?
DARÍO
VUTURUÁ
É Vuturuá. Mas pode me
chamar só de Darío.
TOMPINHÃO-COELHO
Vou chamar você de Dario.
Sem o acento.
DARIO
Melhor, não, Coelho.
COELHO
Por que não?
DARÍO
Me chama de Darío, que na
escola eu ficava puto quando me chamavam errado.
T.P.C.
Então, você entendeu o meu
ponto. E me chama de Tompinhão-Coelho, que eu prefiro.
Mas, diga lá, Darío, o que
você queria falar comigo?
Quer que te descole mais
fumo?
D.V.
Não, não. Obrigado. Eu
prefiro ir devagar, sabe?
Na verdade...
...eu fico meio lento
quando fumo.
T.P.C.
Tá certo, mas me conta aí,
que pasta é essa que você tá segurando aí, doido pra abrir?
D.V.
Ah, essas são as notícias do
monstro, cara.
E Darío Vuturuá entregou uma pasta repleta de recortes de
jornal para Tompinhão-Coelho. E um novo monstro estava para ser gerado.
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