quinta-feira, 10 de abril de 2014

Seqüência 2.4 – Repasto caseiro



            Em casa, Pernalonga sentou-se na varanda, enquanto Francisquim vasculhava o porta-luvas em busca de uma ponta. Habilidoso, o primeiro desfez o resto do cigarro e apertou outro baseado, um “finote de cadeia”, como chamou.
            - Podemos fumar aqui? – Perguntou Francisquim, vendo o outro acender a bagana.
            - Por que, tá com medo do meu tio expulsar você daqui igual ele fazia quando a gente era moleque?
            - Pode crer. Cara, seu tio era um pentelho.
            - Um tremendo filho da puta.
            - Ainda bem que ele morreu.
            Os dois se entreolham. Sérios. As risadas que se seguem os deixa dobrados, se contorcendo, barriga doendo e dando sopa pro tempo, que apaga o baseado.
            - Ih, fodeu. Será que dá pra acender?
            - Passa pra cá -, diz Pernalonga -, vou colocar em prática minha habilidade Saiyajin: o Tapa de Lázaro!
            - Falou, ô ressuscitador de baganas! Manda brasa, então.
            O problema deste tipo de façanha era queimar os dedos ou os bigodes, mas trazer de volta o fogo de um cigarro quase extinto (principalmente um como aquele, refugo de uma ponta), era uma habilidade digna de admiração. Ainda mais se fosse com fósforos, como era o caso. Limpeza, Perna voltara da prisão decidido a não dar mole, e não ter isqueiros fazia parte do processo. Só andaria com fósforos, muito mais fácil de dechavar ou simplesmente dar sumiço na parada, sem o peso do preço de um isqueiro, muito mais caro que os poucos centavos de uma caixinha de palitos.
            - Até que eu ainda mando bem, né? – disse Pernalonga, passando a ponta acesa para Francisquim: - Aqui, pode matar.

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