Em casa, Pernalonga sentou-se na
varanda, enquanto Francisquim vasculhava o porta-luvas em busca de uma ponta.
Habilidoso, o primeiro desfez o resto do cigarro e apertou outro baseado, um
“finote de cadeia”, como chamou.
- Podemos fumar aqui? – Perguntou
Francisquim, vendo o outro acender a bagana.
- Por que, tá com medo do meu tio
expulsar você daqui igual ele fazia quando a gente era moleque?
- Pode crer. Cara, seu tio era um
pentelho.
- Um tremendo filho da puta.
- Ainda bem que ele morreu.
Os dois se entreolham. Sérios. As
risadas que se seguem os deixa dobrados, se contorcendo, barriga doendo e dando
sopa pro tempo, que apaga o baseado.
- Ih, fodeu. Será que dá pra
acender?
- Passa pra cá -, diz Pernalonga -,
vou colocar em prática minha habilidade Saiyajin: o Tapa de Lázaro!
- Falou, ô ressuscitador de baganas!
Manda brasa, então.
O problema deste tipo de façanha era
queimar os dedos ou os bigodes, mas trazer de volta o fogo de um cigarro quase
extinto (principalmente um como aquele, refugo de uma ponta), era uma
habilidade digna de admiração. Ainda mais se fosse com fósforos, como era o
caso. Limpeza, Perna voltara da prisão decidido a não dar mole, e não ter
isqueiros fazia parte do processo. Só andaria com fósforos, muito mais fácil de
dechavar ou simplesmente dar sumiço na parada, sem o peso do preço de um
isqueiro, muito mais caro que os poucos centavos de uma caixinha de palitos.
- Até que eu ainda mando bem, né? –
disse Pernalonga, passando a ponta acesa para Francisquim: - Aqui, pode matar.
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