A estrada esburacada pontuava o
monólogo de Francisquim. Os solavancos colavam à guitarrada de Fire and Water
do Free no K-7 gasto que se embolava em chiados, poeira e um brilho rosa na
cara de Pernalonga, que pedia ao motorista para encostar o carro.
- Pra quê? – perguntou Chiquim.
- Fica mais fácil de apertar o
baseado. – Pernalonga firmava o cigarro com quatro pontas retiradas de um vidro
onde Francisquim guardava cerca de duzentas. O pote tinha sido trazido da
coleção particular do outro que, antes de iniciar a vigem, passou em casa para
descolar um pão com manteiga para ele e o amigo. E como todo mundo que é
obrigado a se afastar das drogas com alguma brutalidade, seja para se tornar um
servo de Deus em alguma pentecostal da vida, ou mesmo por motivos legais como
os de Pernalonga, era comum que aqueles ao seu redor, ainda muito crus e
bandeirosos, recebessem gratuitamente alguma espécie de conselho - Você devia
tomar mais cuidado. Tá doido de andar com esse monte de ponta dentro do carro.
-
Isto não passa de neura de ex-presidiário. Seu tempo na gaiola fez você ficar
pensando igual aqueles do lado de lá. Nós somos outra coisa, meu amiguinho.
Nosso papo é muito mais místico, nossa onda é muito mais do coração e menos da
tesão... Já reparou que
Gita do Raul Seixas tem backing vocals iguais a apresentação do Joe Cocker em
Woodstock? O curioso é que o Raul, eu acho que usou mulheres mesmo. Aquelas
vozes finas cantando com o Joe eram todos homens. Loucura, não acha?
- Nunca tinha reparado. Virou
crítico musical, agora?
- Aprendi com a sua mãe.
- Foi? Esse tempo todo preso e você só conseguiu pensar nisso de
interessante pra falar?
- Não, tenho duas coisas, também.
- O quê?
- Isto – e Pernalonga pegou o pau e
as bolas com a mão direita, mostrando o volume sob a calça para Chiquim – e
isto. -, emendou mostrando o baseado apertado na outra mão.
- Ah, definitivamente este é mais
grosso e prazeroso. Faça o favor de acender, já.
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