JORGE TADEU, LAGARTO,
ENTRESPINHOS, O CORDEIRENSE-GENTE-BOA e SURIQUITO estão sentados ao redor de
uma fogueira. As sombras deles no fundo, sobre o barranco, é falsa – como um
kabuki, um teatro de bonecos que, nas sombras passam por várias aventuras,
enquanto os cinco acendem e repassam baseados apagados e babados.
JORGE TADEU
Parei
de usar sorine cheirando maconha.
ENTRESPINHOS
Cumequié
unegoci?
JORGE TADEU
A
fumaça, lógico.
O CORDEIRENSE-GENTE-BOA
Ah,
a fumaça, pô. Ele tá fumando pelo nariz e fala assim, todo normal, igual que
tivesse fazendo anúncio no intervalo do Domingo Legal. Falando nisso, mas
sabendo que não tem nada a ver, você viu a roupa nova do Batman?
LAGARTO
Que
Batman que nada, aquilo é uma bichona! E tem mais um negócio, cês viram que ta
dando merda na Rússia, né? Cês tem que se ligar, que o bicho vai pegar, o
cachorro vai sacudir os pelos e...
SURIQUITO
E
você vai calar a boca, caralho. Deixa o cara explicar ali, que eu fiquei
curioso com esse negócio de cheirar maconha.
O CORDEIRENSE-GENTE-BOA
Não,
ele ta falando como se fosse um método pras pessoas largarem o vício.
JORGE TADEU
Não
tôu falando nada disso, seu cordeirense viado.
O CORDEIRENSE-GENTE-BOA
Que
porra é essa, hein?
ENTRESPINHOS
Não,
depois cêdiz qporraéssa, agorexplicaonegócio da maconhpelo nariz.
LAGARTO
Não,
pêra, que antes eu tenho uma fofoca.
ENTRESPINHOS
Aicaralho.
Não podesperar?
LAGARTO
Não,
que eu tô chapado e vou me esquecer.
JORGE TADEU
Ta,
então conta que eu fiquei curioso.
SURIQUITO
E
se não for pra falar de coisa ruim, igual essas maluquices que você e Coelho
ficam falando de zumbi e essas porras.
LAGARTO
Pois
é muito mais estranho, maluco. Eu fui a Friburgo almoçar com um padre ai,
entregar a salada pra ele e tal. E fui de ônibus, né? No sapatinho. Quando
voltei, uma mulher grandona sentou atrás de mim, eu vi ela passando enquanto
entrava, sabe? Tum, tum, tum. Coisa de doido. E aí, no meio da viagem, do nada,
me bate no ombro
(tudo isto pode ser representado pelas
sombras)
“Você
não é Romerinssuriquitoooo?”, ela me perguntou. E eu olhei pra trás, ouvindo
aquela voz grossa, e vi uns lábio inchado e uns peitos que não eram peitos e...
porra, bicho, era o Robertinssilvêra. Tra-ve-cô!
ENTRESPINHOS
Agora
que aquele Pernalonga vai comer pra valer.
Todo
mundo cai na gargalhada. Jorge Tadeu tira o baseado da boca e rasga a piteira,
que fica colada no lábio. Ele pega o papel e joga o beque na fogueira pro
espanto de todos, inclusive ele mesmo. Lagarto saca outro baseado.
Parecia
o paraíso. E ninguém lembrou que a história de Jorge Tadeu tinha ficado sem
fim.
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