Inerente a situações esquisitas das
quais experiência e sorte sempre lhe propiciavam uma saída milagrosa, Dario não
se importou de acompanhar aquele estranho maltrapilho com cara de quem nãotomava um banho há alguns dias. Parecia-lhe muito simples que ao chegar numa
cidade onde não conhecia ninguém, logo se afeiçoasse por alguma figura perdida
e carente que, em troca da companhia, só lhe pediria as orelhas brevemente
emprestadas. Diabos, pelo menos não teria que pagar hospedagem.
...e de fato não era o verão de 87,
que ele não tinha passado pelo Verão da Lata nem nada, ele sempre mencionaria
isso em conversas, lamentando a ausência de uma maconha como aquela em sua
formação, ao passo que Pernalonga chegou a falar de que ele sim já era um
maconheiro velho e que bem era capaz de reconhecer outro, e foi por isso,
também, que acabou convidando o outro para vir até sua casa e foi logo falando,
espalhafatoso e cheio de marra que era maconheiro velho, que tinha fumado da
Lata, e fazia e acontecia, e Dario já começava a se perguntar se aquilo não ia
dar em merda, que bem podia ver na linguagem corporal do outro que era um
sujeito problemático, e já estava para declinar do convite, quando, a toda, um
Gol passou pelos dois, deu uma freada brusca seguida de ré, e parou ao lado de
Pernalonga. A janela se abriu e do interior do veículo surgiu uma mão negra,
indicador para frente e polegar para o alto.
- PAU!
Estalidou o motorista.
Dario carregava uma mochila e uma
bolsa atravessada no ombro, foi esta que ele abraçou, nervoso, enquanto o
ocupante do veículo punha a cabeça pra fora, na direção de Pernalonga, que se
abaixava para falar com ele.
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