Pernalonga acordou razoavelmente bem
para alguém que andara alucinando com o assassinato de amigos e fora recém-empregado
como cobrador para um padre traficante. Esfregando a barba por fazer e os olhos
repletos de remela, abateu-se com a verdade de que passaria o dia virando massa
e carregando balde. E, embora o resto do tempo pudesse passar na companhia de
amigos e fumando uma maconha razoavelmente boa, trabalhar era a melhor parte do
seu dia.
Pernalonga abriu a porta e se sentiu
num episódio de A Grande Família, onde o Lineu começa o dia encontrando o Tuco
ou o Augustinho dormindo na porta de casa. Chiquinho estava todo encolhido, com
um babaseado colado aos lábios, meio bêbado meio dormindo, falando sozinho e
abrindo um sorrisão quando deu de cara com o amigo, que o recepcionou rolando-o
para dentro de casa.
- Por que você baba o beque todo,
mané? - Pernalonga passou o cigarro sobre a chama do isqueiro, fazendo o
possível para secar o papel. – Pensei que você preferisse celulose.
- Cansei de fumar em prástico.
- Práxico.
- Prassssco.
Depois de engasgarem com as risadas,
continuaram a fumar em silêncio.
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